Ex-funcionário do Ministério da Defesa do Reino Unido, onde integrava o departamento de
estudos oficiais de objetos voadores não identificados, Nick Pope participou do UFO
Summit Brazil, em Porto Alegre
Nick Pope foi responsável pelo departamento de estudos oficiais de UFOs do Ministério da Defesa britânicoIsadora Neumann / Agencia RBS |
O britânico Nick Pope, 54 anos, é uma celebridade no mundo da ufologia: presença constante
em programas sobre o assunto produzidos por emissoras como History Channel e National
Geographic, seu rosto é conhecido por muitos dos que esmeram no estudo de objetos voadores
não identificados (óvnis) e nas especulações sobre a existência de vida — inteligente, até,
quem sabe — fora da Terra.
Trabalhando por 21 anos para o Ministério da Defesa do Reino Unido, sendo três desses anos
à frente do departamento de estudos de UFOs (unidentified flying object, sigla em inglês
para óvnis), o UFO Desk, mantido pelo governo britânico no início dos anos 1990
especialmente para o estudo desses fenômenos, Pope fala com propriedade sobre
investigações, casos não resolvidos e até uma abertura maior dos países para a ideia de
que nem tudo o que passa pelos céus do planeta pode ser explicado. Desde que deixou suas
funções no governo, em 2006, ele se dedica a atividades como conferencista e radialista,
sempre em produções sobre alienígenas.
Na noite de terça-feira (19), Pope foi ovacionado por uma plateia que quase lotava um
auditório no Hotel Embaixador, no Centro da Capital. Na ocasião, ele apresentou uma
palestra na etapa de Porto Alegre do UFO Summit Brazil — que já passou por Recife e, na
sequência, estará ainda em São Paulo e Curitiba. Antes da apresentação, ele concedeu a
seguinte entrevista a GaúchaZH.
Com a experiência de quem trabalhou para o Ministério da Defesa do governo britânico,
você identifica que fenômenos considerados ufológicos são mais vistos como ameaças em
potencial ou como possibilidades de comunicação?
Tudo relacionado ao espaço aéreo era de nosso interesse. O governo quer saber de todos os
objetos que estão voando. Pelo menos para ter conhecimento sobre a segurança aérea. Então
nós realmente consideramos (como ameaças em potencial). É a mentalidade
militar: considerar algo uma ameaça até que se possa mostrar que não é uma ameaça.
É melhor ficar aliviado de não haver uma ameaça do que assumir que não há e, então, ser
surpreendido. Não significa que pensamos que UFOs, o que quer que sejam, sejam maus ou
hostis. É simplesmente que a filosofia militar é "estar preparado".
Você sabe de algum governo que de fato tenha trabalho no desenvolvimento de mecanismos de
defesa contra possíveis extraterrestres? Ou a tentativa, se ao menos se pode considerar
que há alguma, é de dialogar?
Bem, não há plano governamental para uma invasão alienígena. Nós precisaríamos adaptar
planos de guerra existentes. Nos Estados Unidos, por exemplo, um plano de ação contra um
ataque da Rússia ou da China teria de ser adaptado. Há algumas iniciativas científicas na
tentativa de uma comunicação, geralmente envolvendo astronomia de rádio, na tentativa de
enviar ou captar sinais, mas essas costumam ser iniciativas de cientistas, não de governos.
A qualquer momento, telescópios podem captar um sinal. E isso traz a questão: poderíamos entender esse sinal? Responderíamos? O que diríamos? Quem falaria pelo planeta Terra?
NICK POPE
ex-diretor do UFO Desk do Ministério da Defesa britânico
Pela minha experiência no Ministério da Defesa, nós não tínhamos 100% de certeza de que
estávamos lidando com extraterrestres. Nós não sabíamos. A maior parte desses casos são
de identificações errôneas. Mas não eliminávamos essa possibilidade, não poderíamos.
Então é sensível, às vezes, pensar: "e se?". "E se isso for verdade, como vamos nos
preparar?".
Oficialmente, não há iniciativas governamentais de comunicação com extraterrestres.
Geralmente, quem toma a frente são os cientistas. E eles estão desenvolvendo o Square
Kilometre Array (SKA), o maior telescópio do mundo capaz de captar ondas de rádio
(no espaço). E há outros telescópios capazes disso. A qualquer momento, eles podem
captar um sinal. E isso traz a questão: poderíamos entender esse sinal? Responderíamos?
O que diríamos? Quem falaria pelo planeta Terra? Há muitas perguntas interessantes e
controversas a respeito.
Nick Pope foi ovacionado pela plateia presente no Hotel Embaixador, no Centro de Porto Alegre, para o UFO Summit BrazilIsadora Neumann / Agencia RBS |
Tanto em sua atividade como ex-funcionário do governo britânico quanto na sua atuação na
mídia, você deve ter conhecido muitas pessoas com histórias impressionantes e até,
possivelmente, inacreditáveis envolvendo contato com vida extraterrestre. Quanto elas
parecem invenção e quanto parecem verídicas?
Provavelmente entrevistei, tanto quando trabalhei no Ministério da Defesa quanto depois,
milhares de pessoas que viram UFOs, e provavelmente centenas que garantiam ter tido
contado direto. A maioria das pessoas está sendo completamente sincera. Claro que há um
número pequeno de pessoas inventando histórias, um percentual de pessoas com algum
distúrbio psicológico, mas a maioria genuinamente acredita que viu essas coisas e teve
essas experiências.
No que diz respeito aos UFOs, eu sei, pelo meu trabalho, que a maioria das pessoas vai
simplesmente estar identificando mal alguma coisa. Satélites, meteoros, aeronaves
militares secretas, drones, coisas assim. Mas eu geralmente digo, e é uma das minhas
citações favoritas sobre isso: "os céticos têm de estar certos todos os dias, mas aqueles
que acreditam só precisam estar certos uma vez", porque só precisamos que um desses casos
seja de extraterrestres. E aí teremos de reescrever a história. Reescrever aquilo que
pensamos ser, como humanos. Qual o nosso lugar no cosmo.
Com todas as descobertas recentes sobre o universo, inclusive a divulgação constante de
planetas potencialmente habitáveis fora do Sistema Solar, você nota que as pessoas têm
tido uma tendência maior a acreditar que há vida inteligente além da Terra?
Quando eu era uma criança, nem tínhamos certeza de que havia outros planetas orbitando
outras estrelas (como o Sol). Então agora, por causa de descobertas científicas como as
que você mencionou, creio que há uma percepção, que está mudando... Uma expectativa muito
maior de que é apenas questão de tempo até que consigamos descobrir vida extraterrestre.
Ou que ela nos descubra.
Por causa de descobertas científicas (...), creio que há uma expectativa muito maior de que é apenas questão de tempo até que consigamos descobrir vida extraterrestre. Ou que ela nos descubra.
NICK POPE
ex-diretor do UFO Desk do Ministério da Defesa britânico
Agora as pessoas mencionam quando isso vai acontecer, e não se vai acontecer. E a ciência
é uma grande parte da mudança nessa percepção. Porque as pessoas sentem que estamos
ficando mais e mais próximos de encontrar "outra Terra".
Quando aquele asteroide de forma engraçada, Oumuamua (que em havaiano quer dizer
"mensageiro de muito longe que chega primeiro"), passou pelo Sistema Solar, um professor
de Harvard disse: "eu acredito que isso é uma nave alienígena"
(em novembro do ano passado, pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos,
publicaram um estudo com a tese de que Oumuamua seria uma sonda operacional enviada por
uma civilização de outra galáxia). Bem, há 10 anos, nenhum professor teria ousado dizer
algo assim. Todos ririam e pensariam que era loucura. E hoje isso é comentando, e não
ridicularizado.
Provavelmente é apenas questão de tempo, um ano, talvez até apenas alguns meses, para
que se confirme vida microbial — não vida inteligente — em Marte, ou em Europa
(um dos quatro satélites naturais do planeta Júpiter), ou em Encélado
(sexto maior satélite natural de Saturno), em algum lugar do nosso Sistema Solar.
E claro que isso seria muito interessante, mas o que me interessa mais ainda é a
possibilidade de encontrar outras civilizações.
Como você vê que a tecnologia mudou a maneira como as pessoas lidam com eventos
potencialmente extraterrestres? Está mais fácil captar fenômenos ufológicos ou, por
outro lado, ficou mais fácil desconsiderar alguns relatos?
O problema agora é quase que temos informação demais. Não há um dia que passe sem que
tenhamos novos vídeos no YouTube, fotos na internet. E, claro, algumas são falsas. Mas,
se há algumas verdadeiras, como saberemos? O melhor lugar para esconder um livro é em uma
biblioteca. Mas temos, claro, pessoas levando celulares consigo; há mais e mais satélites
por aí; jatos militares têm, por vezes, câmeras, e algumas dessas imagens nós vimos bem
recentemente (em setembro, a Marinha dos Estados Unidos confirmou a autenticidade de vídeos
do Pentágono que mostram objetos voadores não identificados). Eles não disseram o que são
os objetos, mas...
No período que trabalhou para o governo britânico, você teve alguma orientação de
"esconder" casos de óvnis? Se isso tiver acontecido, você voltou a esses casos após deixar
o posto?
Nós não escondemos nada, pelo menos não ativamente. Consistentemente, porém, minimizamos
isso diante do Parlamento britânico, da mídia e do público. Talvez não tenhamos contado
toda a história de como estávamos interessados e envolvidos no assunto. Mas, agora, a
situação mudou. Nos últimos 11 anos, o governo britânico tem divulgado muitos arquivos
ufológicos. E muitos fui eu que escrevi. É como ver meu passado voltar a mim. E essa,
claro, é uma das razões pelas quais eu posso falar sobre isso. Não vou violar meu
juramento de sigilo. Mas meus próprios ex-empregadores liberaram muitas dessas informações,
e é aceitável que eu fale, como alguém que estava lá. Queríamos um governo mais aberto,
mais liberdade de informação. O público tem o direito de saber.
E qual a participação do Brasil em todo esse cenário?
Minhas referências, no Ministério da Defesa (do Reino Unido), eram nacionais. No entanto,
ficava atento ao que estava acontecendo ao redor do mundo. Estava ciente do caso de
Varginha, do incidente de Colares e da Operação Prato. Então sabia que coisas interessantes
estavam acontecendo no Brasil. Mas era muito difícil, para nós, considerar contato com o
governo brasileiro. Porque nossa posição pública foi sempre de minimizar esse assunto.
Contatar a embaixada seria contradizer o que dizíamos ao Parlamento. Olhando para trás,
eu desejo que tivéssemos feito contato.
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