quinta-feira, 18 de março de 2021

O colecionador de sorrisos (parte 1)

 Clube do medo ofc


Era mais um dia chuvoso, a chuva embassava as janelas do carro pela parte de dentro; era uma chuva qualquer, mas mesmo assim ela me dava arrepios, não sei por que, mas a chuva sempre me incomodou. Talvez fosse pelo barulho que fazia ou de como ela fazia o céu ficar escuro, não sei. Nós estávamos naquele carro há tantas horas que eu nem sentia mais minhas pernas...ah espera...eu nunca as senti. Meus olhos âmbar se concentravam em uma imaginária corrida de gotas de chuva na janela, hora ou outra se concentravam na chata e normal paisagem urbana. 
- Evan? Evan, está me ouvindo? 
Disse minha Madrasta Martha, ela não parava de se olhar em seu espelho de mão, aquilo me irritava de certa forma.
- lembre-se estamos indo para uma casa especial com muita história, então explore e fuchique tudo que puder, okay querido? 
Dou de ombros e volto a olhar para a janela, assim encosto minha cabeça no úmido e gélido vidro, sinto meus negros dreads amassarem um pouco por causa do contato. 
- ah sim, uma bela história de assassinato. Vou adorar procurar cada mancha de sangue que ficou impregnado naquela casa. 
Falo em um tom seco e debochado, ela suspira e meu pai me dá um sermão enquanto dirigia sem tirar os olhos da estrada. 
- Evan, isso é muito importante para Martha, essa casa trará para ela inspiração para seu novo livro. 
O olho com tédio e cruzo os braços como estivesse desafiando ele. 
- e o que eu tenho a ver com isso? 
O carro fica em silêncio, até Toddy, meu poodle branco pareceu ficar calado. Meu pai suspira e me olha através do retrovisor com um olhar raivoso. 
- a casa é barata, poderá estudar em uma escola melhor e mais acessível para assim se tornar um... 
- ...um advogado bem sucedido e trabalhador como você, é eu sei. 
O interrompo com o mesmo tom seco de antes, o clima naquele carro só parecia piorar. 
- oh! Olhem só, a entrada do condomínio é linda! 
Disse minha Madrasta enquanto sacava rapidamente seu celular para fazer um story dela na entrada do local, até que era bem arborizado e as luzes amareladas dava um charme no muro branco. Nossa casa ficava na rua M, era ao redor de uma das praças que mais pareciam bosques de tão grandes. 
- olhem só! A casa é bem bonita. 
Disse meu pai enquanto estacionava o carro na garagem, era uma casa de dois andares branca, havia cercas apenas nas laterais e nos fundos da casa. Não sei o por quê, talvez fosse pelo o que eu já sabia que tinha acontecido lá ou pelo clima chuvoso, mas aquela casa tava me dando arrepios só de eu estar no jardim. as janelas pareciam escuras demais, a parte de fora da casa estava limpa demais e quando eu olhava para as outras casas elas pareciam mais normais. Desencosto da porta do carro quando vejo meu pai se aproximando e abrindo a mesma. 
- obvio que é bonita, reformaram ela para esconder os vestígios dos assassinatos que ocorreram. 
Cruzo os braços enquanto sinto ele puxar minha cadeira de rodas para fora do carro, Toddy pula em meu colo e deita no mesmo, assim nós três vamos até a entrada da casa. O gramado do jardim era bem pequeno e bem limpo, as poucas flores que haviam eram aquelas bem pequenas, porém bem coloridas. O caminhozinho de asfalto para a entrada da casa estava bem desgastado e com muitas rachaduras, como se não tivessem se importado em mudar esse detalhe da casa e isso me incomodou um pouco pois deixou aquela casa mais estranha. Minha cadeira não parava de balançar de tantas rachaduras e meu pai estava com dificuldade de me empurrar para assim entrarmos logo lá. 
- putz que turbulência em filho haha 
Disse ele tentando fazer uma piadinha falha, finalmente entramos na casa, a sala era bem simples com um piso de madeira clara que se estendia por todo o primeiro andar; na sala havia apenas um sofazinho branco que era quase igual as paredes internas, uma estantezinha também de madeira clara onde havia uma TV simples de 40 polegadas. 
- seu ps4 tá bem ali filho, legal né? Martha encheu essas paredes brancas de quadros e plantas, Ficou bom né? 
Ele tentava puxar assunto comigo, mas estava falhando como sempre. 
- ah sim pai, está lindo como o clima dessa casa. 
Novamente o silêncio gritante percorreu entre nós, Martha se aproxima da escada para o segundo andar e me olha sorridente. 
- aqui! Pedi para adaptar a escada para você, agora você tem seu elevadorzinho particular. 
Suspiro e dou de ombros, ponho as mãos nas rodas e vou até o elevador 
- hum...obrigado, Martha. 
Falo de forma seca e aperto para ele subir, tremeu um pouco, mas consegui me locomover bem pelo segundo andar. O corredor possuía luzes automáticas, confesso que fiquei com um pouco desconfortável na hora, ainda mais por que meus pertences estavam no suposto quarto dos antigos irmãos. É no mínimo estranho imaginar‐se dormindo no mesmo local onde um assassino em série fez sua "estreia" em sua própria família. Mas...pelo visto não tenho muita escolha, já que ela estava louca para morar aqui. Sempre achei a Martha maluca por escrever livros sobre assassinatos, mas morar em um local onde ocorreu um crime aí já é loucura demais para mim. 
Entro no quarto e ele parecia ser mais frio que os outros cômodos da casa, era até que grandinho, a única janela dava de frente para a praça e cama ficava em baixo da mesma, ao lado direito havia um criado mudo com meu abajur em formato se lua cheia; perto da porta havia um velho armário branco que já estava descascando e aquilo me incomodava, pelo visto eles não se importaram em mudar alguns importantes detalhes dessa casa. Algumas de minhas roupas já estavam lá, assim como meus perfumes e meus tênis. Não estava afim de arrumar tudo então apenas dirigi minha cadeira  até a cama e me joguei na mesma, tive que fazer um certo esforço para me aconchegar, mas no final valeu a pena. Fechei os olhos e comecei a ouvir algo em minha janela, não parecia ser chuva, muito menos galhos, parecia que algo estava arranhando o vidro. Com certo esforço sento na cama e olho para a janela, arregalo os olhos ao ver uma silhueta sendo iluminada por um raio, assustado grito com toda a força de meus pulmões enquanto por reflexo dou um impulso para sentar em minha cadeira, mas acabo caindo no chão. Olho novamente para a janela e não havia nada, suspiro aliviado e olho em direção à porta, em minha frente estava a mesma silhueta; um raio ilumina o quarto e paraliso em medo ao ver um rosto branco como neve com esbugalhados olhos negros como a noite e um enorme sorriso ensanguentado que ia de orelha a orelha, ele me encarava como se fosse um predador pronto para pegar sua presa, sua respiração estava pesada, parecia que ele respirava dentro de minha mente. Num piscar de olhos ele estava em minha frente, ele pareciam faminto e louco para por as mãos em mim. logo aquele ser me segura pelos cabelos e me encara com aqueles redondos olhos que cheiravam fortemente a queimado, ele abre aquele grotesco sorriso e sinto meu estômago revirar quando sua voz ecoa pela minha cabeça.
- vá dormir! 
Ele grita com aquela voz rouca que ecoou pelo quarto junto à um trovão, ele faz um movimento com o punho e me esfaqueia no estômago. Dou um pulo da cama e grito enquanto escutava um trovão lá fora, eu ainda sentia seu rosto m encarar enquanto meu pai e Martha entram no quarto correndo, eu estava muito suado e trêmulo com aquele maldito sonho.
- tá tudo bem, filho???? O que houve??? 
Disse meu pai extremamente preocupado enquanto vinha em minha direção, eu estava ofegante e meu coração estava a mil. Eu não conseguia dizer nada e por causa disso eles apenas suspiraram e me abraçaram tentando me confortar. Mesmo que tivesse sido apenas um sonho, eu ainda sentia meu abdômen doer...e essa foi a primeira noite de muitas naquela maldita casa.





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